segunda-feira, 5 de maio de 2008

Por terras e águas do Rei Mexilhão


Alguns meses atrás recebi um convite do meu amigo Cmdt João Beiga, "temos de ir á Galiza em Maio, vamos lá mamar uns mexilhones e umas canhas á conta daqueles gajos, e até fazem uma regata em nossa honra", eu disse logo, "se é para mamar á conta dos nuestros hermanos, conta comigo, a regata logo se vê".
È claro que eu nunca iria perder um evento das "Organizações Beiga, SA ", é um desenrolar de emoções fortes, overdoses de adrenalina, a própria ABJSE-Associação de Bundjee Jumping Sem Elástico, tem-se vindo a queixar de que os eventos desta entidade fornecem aos participantes adrenalina em doses superiores ao permitido por Lei.

Aveiro 30 de Abril de 2008 1903 horas
Chega o Cmdt Beiga com 3 minutos de atraso, com o carro cheio de Mouros, toca a entrar para a camineta, temos de ir para Espanha.
-Entrem que eu não vou, depois vou lá ter, não se preocupem.
(como se nós estivessemos preocupados com ele)
"Ó Beiga, se eu e o Julio vamos dormir ao barco precisamos da chave"
-Pois, esqueci-me, mas fizeste bem em lembrar, vão andando que eu ainda chego lá primeiro que vocês e levo a chave.

Um quarteto de mouros (o outro tá a tirar a foto)


Porra do Caraminhal 01 de Maio de 2008
O dia acorda bonito, vou beber um café ao clube náutico, foda-se 90 centimos e não valia um coiso das Caldas.
Chega o nosso Cmdt Beiga, colega de curso do não menos famoso Basco Moscoso de Aragão (Capitão de Longo Curso), acompanhado da sua esposa Capitôa Marieke ostentando a sua farda náutica.
"Ó Beiga, os documentos do barco?"
-Épá, os mouros são uns chatos, lembra-me que tenho que tos dár.
E lá fomos nós, mamar uns bocadillos, unas canhas, uns copitos de viño rojo, de seguida embarcámos numa camioneta e fomos passear por aquela terra que um dia foi nossa, no fundo fomos matar saudades.
Acabámos o dia a mamar perdidamente (como no poema da Floribela Espanca), é claro que foi á conta dos nuestros hermanos.

NBB Béronique a descer a Ria de Arousa

02 de Maio de 2008 - Da Porra do Caraminhal até Bigo
O Cmdt Beiga não veio no navio, o Cmdt Moscoso que estava de reserva tambem não apareceu, logo eu e o Julio tivemos de nos fazer ao mar por nossa conta e risco. Não fossem os golfinhos que apareceram ao fim da tarde e a viagem teria sido uma monotonia pegada.
Mas á chegada lá estava o nosso Cmdt Beiga, ele e uma feijoada de samos, para o almoço do dia seguinte, e mais uma vez lá fomos mamar á conta dos outros, mejillones al vapor, bocadillos, tortillas de patata, canhas, claritas e pulpo.
Como não havia café a nossa "Amiga Atlantica", (link para o seu blog ) ( http://unamiradaalariadevigo.blogspot.com/) ofereceu-se e insistiu para nos levar a um café ao centro de Bigo, largou-nos mais ou menos á porta de um café semi-aberto ou fechado, e disse em galego uma coisa que eu não percebi, mas o Cmdt Toni Pardal Sepikingue, imediatamente traduziu assustado: "ela vai-se embora, vai buscar o Pipo ao clube e diz que para voltarmos á marina é pelo caminho que viemos, só que a pé, se nos perdermos, basta seguirmos o musica na Marina e vamos lá ter".
"Vai-se embora uma mierda, para já é longe pa carialho, depois se os gajos desligam a musica tamos fornicados, que se lixe o café, vamos é outra vez com ela".
Lá a convenci a esperar 5 minutos e nós bebemos um café, 1 Euro, foda-se mais uma vez e não valia outro caralho, se estivesse aqui uma tia minha, a gorda atrás do balcão levava com o café no focinho até tirar uma bica.

03 de Maio de 2008 De Bigo até á Póvoa de Varzim (Portugal)
O Cmdt Beiga reassume o comando do navio NBB Béronique, desta vez sim, a viagem prometia, mais não fosse pela famosa feijoada.
E lá iamos nós rumo ao mar, quando os nuestros hermanos se lembram de fechar a torneira do vento, o Cmdt Pardal Sepikingue, farto destas merdas, avisa logo pelo rádio, que vai fazer uma corrida a motor, O Cmdt Licas não o deixa fugir e vai logo atrás dele.
No NBB Béronique vamos a votos, as opções são de ir a motor ou esperar por vento, resultados: um voto a motor e duas abstenções, foi o unico caso em que as abstenções ganharam a um voto a favor e ficámos na mesma.


Ena pá, ukéke vem lá?


1200 - Vamos almoçar , temos uma feijoada de samos.
Mas, como não há bela sem senão o Beiga dá o alarme:"Ópá, não há gás"
(já eu estava a notar que faltava qualquer coisa nesta viagem, a navegar á práticamente 2 horas e ainda não tinha acontecido nada, era no minimo estranho).
Julio - "Ó Beiga vê lá se é a torneira de segurança que tá fechada"
Je - "Ó Julio, qual torneira, ele tá a abanar as duas bilhas, deve tar a querer aproveitar o gás que tá coalhado, em ultimo caso mete-se a feijoada ao sol, pode ser que aqueça".
Afinal parece que há gás, mas soa novamento o alarme "não há fósforos",por sorte o Julio tinha um isqueiro e lá se aqueceu a feijoada e 2 dedos do Beiga a tentar acender o fogão.


1230 - Soa novamente o alarme mas desta vez via VHF, "o pessoal tá a levar porrada no Sileiro", nós estavamos nas Cies sem vento, mas no momento em que o Julio mete o ultimo feijão á goela, começamos a levar com tudo em cima, deu para tudo, viragens de bordo, cambadelas, trambolhões dentro da cabine, etc.



Islas Cies


E prafazeando o nosso colega Cmdt Pardal Sepikingue, começámos a levar com 30 nozes de vento, todas de uma vez no focinho e foi mesmo muita fruto seco, "baixa pano á proa, mete motor e vamos mas é para a nossa terra, querias vento, agora toma lá".
E lá foi o NBB Béronique, no meio da borrasca aos pulos que nem um macaco, fico eu e o Julio no poço, o nosso Cmdt Beiga confia em nós e vai dormir, e eu comento com o Julio, "como é que aquele gajo consegue ir dormir com esta merda aos pulos, mas pronto ele lá sabe".
O que vale é que este pessoal lá dos lados de ABeiro, habituados a estas andanças pelo grande Mar Oceano do Norte (ainda os hei-de ver no Mar da Palha), ia-se mantendo informado: Não se recolhe a Baiona, andar 5 para trás ou 10 prá frente, segue-se prá frente, em La guardia tá melhor, seguimos até Viana, em Viana tá bom, vamos prá Póvoa.

E efectivamente pra lá da fronteira as condições eram outras, mais prós lados de Montedor encontrámos condições para jantar, metemos o "preto" (cor do piloto automático) ao leme e recolhemos á cabine.
Jantamos o resto da famosa feijoada (parabens á cozinheira Marieke) e entretanto anoitecia e passávamos a barreira psicológica das 10 milhas, comunico a nossa posição ao Cmdt Pardal Sepikingue (deve ser o nome completo dele, cada vez que vinha ao rádio dizia: "olá Mouro, aqui Pardal Sepikingue"), e digo "espera por mim que tens de me levar para Abeiro".
Mas passados uns minutos, a 7,5 milhas da Póvoa, o Cmdt Beiga dá novamente o alarme "temos de ir á vela", eu nem digo porquê, quem quizer que adivinhe.
Comunicamos ao Pardal que vamos velejar um bocadinho, a noite tá boa e vamos aproveitar a estadia aqui no meio do mar.
Passadas 2 horas, já era estadia a mais e vela a menos, pelo que pedimos ao Cmdt Berna do "Tibariaf II", que viesse ter connosco para falarmos um bocadinho e já agora trazer uns litritos de gasoleo, não fosse o nosso acabar por acaso, o Berna gostou da ideia e 30 minutos depois tava á nossa beira e seguimos viagem juntos.
Entretanto o Cmdt Pardal Sepikingue dava uns conselhos por rádio "se por acaso vos faltar o gasóleo, metam do Alvarinho no depósito, se o motor for como o dono, queima tudo".
Entrámos na barra da Póvoa por volta das 2 da matina com o Chico Albino e a Isabel á nossa espreita assim como um respeitoso comité de boas vindas.
Mais uma vez o NBB Béronique foi a embarcação mais famosa em prova, vá-se lá saber porquê.

(Fotos disponiveis a partir de 07/05/08, mais pormenores em http://nvvolare.blogspot.com/)