segunda-feira, 20 de julho de 2009

Café Maioral (Tasca da Ti Rosa)

Integrado no 3ºCTP, realizou-se mais uma romaria á tasca da Ti Rosa, do mesmo modo que quem chega ao porto da Horta tem de ir ao Peter's beber um gin, quem chega a Valada tem de ir á Ti Rosa comer os petiscos, beber uma mini ou apenas beber um café.
Ao jantar há a sopa caseira dos navegadores, como se diz por lá, "temos de fazer sopa para os gajos dos barcos".


Desta feita malhámos una belos bitoques, acompanhádos de um tinto especialmente engarrafado em garrafa d'agua de plástico de litro e meio.

O ponto de encontro dos navegadores d'agua acima.

domingo, 12 de julho de 2009

Ah e tal, têm de ir buscar o Béronique a Bayona.

E foi assim que o Nosso Cmdt Beiga nos meteu em mais uma.
Mails pra cá, telefonemas pra lá, recomendações, alterações, instruções, depois de contratado um arquivador oficial para dar o devido tratamento a toda esta correspondência, lá me entendi com o Julio e o Bolha e tomámos a sábia decisão e nobre tarefa de ir buscar o NVV Véronique a terras do Rei Mexilhão, onde havia ficado abandonado pelo seu armador, que numa noite de neblina saiu desamparado do “Mar y Arte” e disse no seu melhor galego “qui si fueda el biarco, los miouros qui lo bienham biuscar”.
Entretanto solicitei autorização para introduzir na tripulação um moço de convés, navegador de água doce, que não estando nada habituado a estas coisas do grande mar salgado oceano do norte, estava no entanto habituado ás fortes ventanias das colinas d’Alhandra e Sub – Serra, a autorização foi concedida mediante o compromisso deste tirar 2 azimutes ao Navio Patrulha, 1 ao Ermedário de S. Jacinto e outro ao primeiro porta-contentores que saísse de Leixões durante a madrugada.
E lá arribamos a Baiona “A real”, não sem antes recebermos 502 chamadas do armador muito preocupado com a sua embarcação, isto porque durante o seu abandono havia batido com a sua esbelta proazinha de aço no trapiche da Real Marina de Baiona “A Real”.

Arribados a Bayona

Lá chegados fomos de imediato recebidos pelo Cap. Machadinho de Albuquerque e pelo Cap. Licas Corte Real ( encontravam-se lá há vários dias, a fim de se ambientarem ao fuso horário), fomos colocados ao corrente dos estragos provocados pela proadas do Véronique no trapiche, colocámos o armador a par destes prejuízos e fomos mamar uma valiente mariscada a uma tasca conhecida do Cap Machadinho.

Como é normal nestes casos o controle de qualidade do vinho esteve a cargo do Cap. Machadinho, pelo que todas a garrafas passaram pelas suas mãos e o vinho pela sua garganta, antes da respectiva aprovação.

Tripulação completamente desamparada ao sair do "Mar y Arte"


A noite acabou no “El Capitan” onde se serviam os Gins Técnicos mais fuertes del miundo, quiçá del univierso, eu que o diga.

Sexta feira dia 09, começámos os preparativos, isto é, vamos ver o que está bem, tarefa bastante facilitada, o que está mal, logo se vê pelo caminho.
Pelas 18 horas lá deixamos o trapiche todo espatifado e saímos de Baiona com as velas no ar rumo ao grande oceano.
(2 horas depois)
- Ó Bolha, mete mas é lá o motor a desempenhar a sua função, senão ainda passamos o fim-de-semana em Espanha, eu não ganho para marisco todos os dias e o stock do vinho só dá para 4 horas.
Pronto e lá fomos nós, não sem antes termos de cortar o cabo d’aço da balsa porque o cadeado não abria, ( o Beiga tinha colocado uma cola especial á base de óxido de ferro para não roubarem), tivemos de anular a função do frigorifico devido a estar com um problema existencial (fazia quente em vez de frio), e prometemos á Nª Srª dos Navegantes uma velinha de cera se o peão da retranca aguentasse até Aveiro.
E lá fomos nós andando pelo mar fora ou dentro (depende do ponto de vista), até que ao cair da noite fiquei de serviço no poço junto com o Jorge (o tal moço de convés), o Bolha disse que ia descansar até á meia-noite.

Nestes entretantos o Julio inventa um novo termo náutico, “vou-me arrochar”, no imediato não soubemos significado desta pequena frase, mais tarde viríamos a saber que o seu significado seria:
“vou dormir como faz o Veiga, se precisarem de mim não me acordem, se alguém se levantar entretanto eu aproveito a deixa e vou-me arrochar, e se eu adormecer quando estiver de serviço e cair nevoeiro a culpa não é minha, logo não é nada comigo, acordem o João que ele já se deitou vai para meia hora, ele que vá para o Radar, alem disso o nevoeiro apareceu assim que ele se deitou).
Lá pelas 2 aparece o Julio e eu vou para o beliche, estava eu a contar navios, quando ouço Bolha a ligar o radar e me diz que tá um nevoeiro cerrado e o Julio tá a dormir lá fora como se não se passa-se nada, imediatamente salto para o Radar, o Julio assim que me vê de pé diz "já que tás aí, vou-me arrochar", e lá fiquei a olhar para a televisão até ás 6 e meia da matina.
Entretanto a noite corria calma até que o “Wapacoo” do Cap. César, lança um pedido de auxilio por ter ficado com o hélice preso numa rede, de imediato o NRP Cacine da Armada Portuguesa que estava a 6 milhas da sua posição segue em seu auxilio, até aqui tudo bem, mas então surge um problema burocrático, o Cap. César pede reboque, situação que lhe é negada uma vez que não havia vidas em perigo, a armada interroga o Cap. César sobre a possibilidade de se desenrascar pelos seus próprios meios, ou seja á vela, (só que não havia vento), mas que os iria acompanhar até ao porto da Póvoa de Varzim, custava muito passar um cabinho?
O “Tibariaf II” andava por perto e lá foi ver o que se passava.
Entretanto ás 6 e meia da manhã o Julio desarrouchou, eu e o Bolha fomos descansar quando passávamos por Leixões.
O resto da viagem correu sem incidentes, de maior, sendo a nossa navegação apenas interrompida de 5 em 5 minutos pelos telefonemas do armador da embarcação a perguntar pela nossa posição, o Beiga tava mesmo preocupado connosco.
Entretanto o armador manifesta o desejo de entrar a bordo da embarcação logo após a entrada da barra, para isso estaria á nossa espera em cima do pontão, então saltaria suavemente para bordo e seria socialmente bonito este chegar a Aveiro a bordo da mesma.
Esta situação foi colocada á discussão da tripulação que rejeitou o pedido, recebendo deste modo a solidariedade doutras tripulações, nomeadamente do “Bruma II” do Cap. Machadinho de Albuquerque, perante esta tomada de posição, entregámos a embarcação ao Armador no trapiche da Lota Velha em Aveiro, onde este aguardava a tripulação de ramos de flores em punho.
Junto com a embarcação, entregámos uma lista de anomalias detectadas a bordo, que conhecendo o armador como conhecemos, a esta hora, pelo menos o frigorifico já deve estar reparado.

O impaciente Armador

Também informámos que finalmente o seu esforço dispendido na formação desta tripulação estava a dar resultados, o Julio já conseguia dormir tanto como ele a bordo, só que me vez de dizer “bou dormir, não birem esta merda, se precisarem de mim chamem”, simplificou tudo e diz apenas “vou-me arrochar”.
Para finalizar deixamos aqui uma pequena formula de vocabulário/tradução Português – Galego, de autoria do Cmdt J F M Beiga, utilizada frequentemente nos serões da Escuela Náutica de Bayona Mar y Arte.
A formula é simples, basta nalgumas palavras trocar o “ó” por um “eu”, noutras palavras não se tira nada mas põe-se um “i” lá pelo meio e fazemos um figurão.
Exemplos: escola – escuela; ponte – puente; troco – trueco; barco – biarco; merda – mierda, caralh… - carailh ou carialh…; gin – gin; tónico – tiónico.
Este vocabulário esteve em desuso aquando colocaram um brasileiro lá no Mar Y Arte e o nosso Cmdt Beiga não precisou de falar estranjeiro.