sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Uma estória Trágico-Maritima

A pedido de várias familias, após varios relatos e outros tantos almoços no Baptista, lá conseguimos localizar o celebre relato da não menos celebre cabrinha do nosso Machadinho, a tal que se sacrificou um dia para salvar o dono.
(Nova edição, revista e aumentada, segundo relatos do protagonista)

"Era o dia 27 de Maio do ano da graça de 2006.
A armada da Avela participava nas operações de busca e salvamento do veleiro luso gaulês que tentara arribar à barra de Aveiro mas que, sem vento, abatia perigosamente sobre os areais da Vagueira, sem vislumbrar as almejadas terras de Espanha, areias de Portugal.
Do seu barquinho atracado na Lota Velha, o Capitão Albuquerque Machadinho, olhava ansioso para o monitor do seu radarzinho, orientando a armada nas operações de Busca e Salvamento em curso (ver post do Ventosga sobre o mesmo tema).
Terminadas a bom termo as operações, foi o nosso Capitão ao porão do Bruminha buscar o que restava dos biscoitos salgados da ultima viagem e dois tonéis de vinho de torna viagem que estavam, diga-se, de estalo.
Eis que aparece no cais o Capitão Licas Corte Real que, fazendo companhia nos biscoitos e nos tonéis ao Capitão Albuquerque Machadinho, apanham duas cabras de monumental tamanho, só comparáveis em dimensão à estatua da Liberdade ou ao Empire State Building, no mínimo.
Decide o Capitão Machadinho rumar a Saint Jacint sur Mer, rondavam as 2300, não sem antes me ter ligado por telemóvel, tentando convencer-me a acompanhá-lo, o que não fiz apenas por àquela hora já me encontrar a xoinar com todos os serrotes e violoncelos.
A questão foi que ao desencostar o Bruminha, o Capitão Albuquerque Machadinho, segurando com uma mão o cabo de amarração da embarcação e com a outra a corda de prender a cabrinha, situação de equilíbrio manifestamente instável, não resistiu ao desequilíbrio e malhou com todos os costados nas aguas da Ria, com o Bruminha a afastar-se, levando-o a reboque.
Aqui deu-se um comovente episódio, de que chamo a vossa atenção.
Ia o Capitão Albuquerque Machadinho e a cabrinha a reboque do Bruminha nas escuras aguas da Ria, eram 2300.
(Segundo as palavras do Cap. Machadinho, as águas esstavam cálidas, 17º, vá lá 18º e o motor do Bruminha a trabalhar, fazia um delicioso "pok, pok, pok, pok, pok")
Não conseguindo subir a bordo sem libertar a cabrinha, esta, querida, sacrificou-se para o salvar.
Libertando a corda que prendia a cabrinha, usou-a o Capitão donatário para subir a bordo, salvando-se das aguas. A cabra, essa, não sabendo nadar e sem a corda que a segurava, afogou-se irremediavelmente na imensidão das aguas.
(O nosso Cap. Machadinho, ainda hoje se comove com os olhinhos da cabrinha, olhando para ele nos ultimos momentos, sabendo esta que teria de se sacrificar para salvar o dono).
Esta história comovente do sacrifício de uma cabra para salvar o seu capitão, figura já ao lado das histórias dos Sepulvedas na Trágico-Maritima Portuguesa."

(Edição original no "Mar adentro Ventosga" do Cap. Veiga)

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